Goiás - expressões identitárias e costumes
- teccernusacer
- 7 de dez. de 2023
- 5 min de leitura
Tânia Maria de Oliveira
Em cada canto de Goiás,
há uma história a ser contada,
e uma tradição a ser preservada!

Cada povo possui um berço biológico e muitas vezes, uma terra que escolhe para viver e realizar seus sonhos, partindo desse pressuposto podemos adentrar na perspectiva da riqueza cultural e patrimonial de Goiás, analisando os desdobramentos e impactos que o povoamento deste território trouxe e ainda promove para as comunidades que aqui nasceram ou escolheram viver.
O ambiente que abriga, o cerrado brasileiro e o estado de Goiás, é composto de várias faces, dinâmicas e diferenciações, possui uma longa história que pode ser contada por meio de sua ocupação. Nesse ínterim, entender a identidade goiana, é uma forma de ponderar melhor a ideia de uma construção que permeia a memória, a tradição, a noção de pertencimento, a culinária, as manifestações culturais, a relação com o bioma Cerrado e a formação da linguagem local.
Desse modo, infere-se como identidade cultural, o conjunto de características, valores, crenças, práticas, símbolos, expressões artísticas, linguagem e modos de vida que definem um grupo ou uma comunidade específica. É a maneira pela qual um grupo de pessoas se percebe, se relaciona com os outros e constrói um sentido de pertencimento com base em elementos culturais compartilhados.
Essa identidade é moldada por vários fatores, incluindo a história, geografia, língua, religião, tradições, costumes e interações sociais. Portanto, a identidade cultural não é estática; ela está em constante evolução à medida que as sociedades interagem, assimilam influências externas e se adaptam às mudanças ao longo do tempo.
Sua preservação e promoção, são consideradas importantes para manter a diversidade cultural e a riqueza de uma sociedade. É válido ressaltar que expressões culturais, como dança, música, arte, arquitetura e culinária, desempenham um papel fundamental na formação e em sua transmissão, contribuindo para a compreensão de quem somos, de onde viemos e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.
Nesse contexto insta salientar que, a identidade e cultura goiana, resulta de uma síntese de influências étnico-raciais, sendo não perfeitamente homogênea, mas sim um mosaico de diferentes vertentes culturais. Por conseguinte, podemos considerar os alcances das raízes indígena, lusitana e africana, as quais deixaram suas marcas indeléveis no âmbito lúdico de nossas notas musicais, no tempero único da nossa culinária brejeira, nos mistérios insondáveis do folclore sertanejo, no desenrolar dos fios, cores e texturas de nosso rico artesanato, na religiosidade e comensalidade típicas e apaixonantes das festas populares interioranas. Como descreveu o professor Eguimar Chaveiro,
[...] o tempo moroso da vida intercedeu nos modos de cantar e de celebrar; nas formas de crença e de relacionar; no jeito de falar e de prosear. E também na maneira de fazer a comida e de reparti-la; de executar o trabalho e de compartilhar o esforço do músculo; de semear, de cuidar e de colher. Constituiu-se uma vida terrosa, escrita do calo e a mediação do cristianismo de roça[...] (CHAVEIRO, 2022, P.10)
Ademais, Goiás tem uma história rica e diversa e suas vertentes culturais resultam da história do homem no Planalto Central, desde os povos ceramistas, indígenas, perpassando pela colonização portuguesa e de seus descendentes paulistas, pela atuação de africanos escravizados e pela consolidação da chamada cultura caipira. A historiografia nos aponta que, após a febre do ouro, a sociedade goiana passa a ser constituída por portugueses e seus descendentes, muitos desses enviados para exercer cargos políticos e religiosos, por decadentes exploradores de ouro, por africanos escravizados e forros, somados à presença indígena, na verdade os poucos que resistiram ao extermínio do colonizador. Isto posto, essa mescla foi descrita brilhantemente por Chaul, no trecho em que diz,
“... Somos fruto de uma mestiçagem maravilhosa, resultado dos elementos que nos compuseram e nos legaram um potencial fantástico de traços culturais entre o indígena nativo, o negro africano e o branco europeu, traços estes que podem ser encontrados da literatura às artes plásticas, passando pela música e pela dança.” (CHAUL, 2011, p.42)
Outrossim, os diversos grupos étnicos e comunidades que surgiram em Goiás ou para cá vieram, contribuiram para a rica diversidade artística desse estado, assim como o arcabouço que inclui as festas religiosas como as romarias do Divino Pai Eterno e de Nossa Senhora da Abadia, além das Cavalhadas e das muitas Folias. Esses diferentes grupos e comunidades corroboram para o enriquecimento do patrimônio cultural do estado com suas expressões únicas de identidade e costumes.
Essas práticas das tradições populares, muitas vezes estão enraizadas em valores tradicionais e crenças religiosas, o que pode contribuir para a manutenção de costumes e normas sociais estabelecidas. No entanto, é importante ressaltar que a sociedade é dinâmica e passível de mudanças, e a influência das tradições pode variar de acordo com fatores como o contexto histórico, as transformações sociais e as perspectivas individuais.
Desta feita, compreendendo historicamente nossa goianidade estaremos entendendo melhor o sentido cultural do sertão, do cerrado goiano, para além do nosso processo histórico, “por sobre a batida de uma viola, uma dança indígena, uma herança arquitetônica, uma forma indivisível de como continuar fazendo parte dos desafios do Brasil Central” (CHAUL, 2011, p.43).
Sabe-se então que à vista disso, a responsabilidade do goiano na preservação de sua identidade, é multifacetada. Envolve o respeito e valorização das tradições locais, a preservação do patrimônio histórico e cultural, e o engajamento em práticas que promovam a sustentabilidade ambiental e além disso, a transmissão das histórias, costumes e línguas regionais para as gerações presentes e futuras, desempenha um papel crucial nesta missão. Nesse sentido, a preservação dos símbolos e da identidade goiana é fundamental para fortalecer a coesão social, promover o orgulho local e manter viva a riqueza cultural que define a diversidade e história desse estado brasileiro e de todos que aqui nasceram ou que aqui escolheram viver e realizar seus sonhos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAVEIRO, Eguimar Felício. Painel Literário do Brasil Central e convidados. Encontro de Academias de Letras. Goiânia,Kelps, 2022.
CHAUL, Nasr Fayad. A identidade cultural do Goiano. Ciência. Culto. , São Paulo, v. 3, pág. 42-43, julho de 2011. Disponível em <http://cienciaecultura.bvs.br/. acesso em 01 dez. 2023.
DI MÉO, Guy. A Geografia nas Festas. Tradução feita por D’ABADIA, Elisa Bárbara Vieira. Supervisão, Profª Dra. D’ABADIA, Maria Idelma Vieira.
FREITAS, Lázara Alzira. História de Goiás - Do povoamento aos trilhos do progresso. Goiânia, Kelps, 2010.

Tania M. Oliveira é historiadora e mestranda em Ciências Sociais e Humanidades pelo Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais do Cerrado (TECCER), na Universidade Estadual de Goiás, graduada pela UEG, com especialização em Coordenação Pedagógica e Gestão Escolar pela FIGF e atualmente é professora efetiva da Secretaria Estadual de Educação e Cultura de Goiás, atuando no ensino fundamental II e ensino médio do CEPMG Dr. Cesar Toledo. Pesquisadora do NuSACER - Núcleo de Pesquisa dos Saberes Tradicionais e Ambientais do Cerrado, suas pesquisas estão concentradas na História Cultural com ênfase em festas; tradições populares; memória e ruralidades.
Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/5481048355914920
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