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AZULEJOS TAMBÉM É IDENTIDADE CULTURAL

Matheus Henrique Fleuri Silva


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Quem disse que uma pedrinha polida nas fachadas de uma casa não conta uma história? Os azulejos, frequentemente percebidos apenas como elementos decorativos, ou até mesmo apenas uma ornamentação, são uma expressão profunda de identidade cultural no Brasil. Presentes nas fachadas, nos interiores, nos espaços públicos, eles dialogam com a história, com a paisagem urbana e com os modos de vida de diferentes povos.

No site Lurca a palavra “azulejo” tem origem no árabe “al-zulaij” que significa “pequena pedra polida” ou “pedrinha lisa” (LURCA AZULEJOS, 2023). Chegando no Brasil desde do momento de sua colonização portuguesa e permanecendo até a atualidade.

Liliane Simi Amaral (2023, p.01) em seu artigo “Arquitetura e arte decorativa do azulejo no Brasil”, aponta que “a utilização de azulejos na arquitetura brasileira iniciou-se como revestimento de barras decorativas e posteriormente em fachadas inteiras”. Refletindo como um elemento construtivo representa uma herança trazida da colonização no Brasil.

A princípio os azulejos são utilizados nas fachadas em razão do clima tropical brasileiro, a fim de proteger as moradias das intempéries. Além disso, essa utilização nas fachadas também demonstra esse desejo de limpeza e higienização dos portugueses, deixando de lado, em um primeiro momento, o valor decorativo e focando na funcionalidade do azulejo.

Com o avanço do processo de colonização, do desenvolvimento da agricultura e do fracasso das capitanias hereditárias, começam a vir os primeiros obreiros com o objetivo de organizar as cidades e juntamente a esse momento do século XVII, as igrejas recebem destaque. Consequentemente os azulejos ganham valores artísticos e estéticos, principalmente na Bahia, sendo utilizados os azulejos como painéis que comunicavam temas sacros e demonstravam a riqueza das ordens religiosas (Figura 01).


Figura 1 - Painel do Convento de São Francisco, em Salvador - Bahia

Fonte: AMARAL, L. S., 2023.
Fonte: AMARAL, L. S., 2023.

 

“Com a vinda da família real para o Brasil e da missão Artística Francesa, trazida por D. João VI, inicia-se a divulgação do Neoclássico. A presença da Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro favorece a implantação de materiais refinados na construção e o aperfeiçoamento das técnicas dos países mais adiantados da Europa. O gosto pelo azulejo acaba determinando uma característica na arquitetura imperial tornando-se um elemento essencial não só no exterior como no interior das casas e igrejas. (Amaral, L. S., 2023)


Posteriormente, já no século XX, o azulejo acompanha o avanço tecnológico e a necessidade de adaptar a arquitetura estrangeira (portuguesa) às condições e características do país, houve uma retomada do azulejo como um símbolo de tradição e identidade, bastante difundido com o Neocolonial.

Contudo, como aponta Ingrid Moura Wanderley (2006, p.28), além dessa busca por uma identidade cultural do país, neste momento do século XX, testemunha-se também novas dinâmicas em algumas cidades, como o caso de Recife em 1909, com a lei n° 564, que proibia o uso de azulejos nas fachadas dos prédios como uma iniciativa que pode ser interpretada como uma tentativa de romper com a herança portuguesa em nome de uma modernidade estilística (Wanderley, 2006, pag. 29).

Mesmo diante de pontuais medidas de esquecimento de fragmento de uma tradição e história, “Na segunda e terceira década do século XX surge o movimento Neocolonial que procurava valorizar os expressões regionais da arquitetura tradicional brasileira”. (Amaral, 2023, p. 10).

Neste momento em diante os azulejos ganham um patamar estético pouco explorado no Brasil, atuando como expressão cultural (Figura 02). Dando liberdade para artistas como Alfredo Volpi, Mário Zanini e Hilde Weber a usarem o azulejo como suporte de expressões artríticas populares (Amaral, 2023, p.12).


Figura 2 - O Circo, Mário Zanini


Pensar nos azulejos como identidade cultural é, portanto, reconhecer seu papel na construção simbólica do espaço e na produção do lugar ao longo da história do Brasil. Os azulejos mostram que o ornamento pode ser algo funcional, resistente e carregar uma linguagem cultural, artística que pertence a uma identidade cultural.


REFERÊNCIAS


AMARAL, L. S. ARQUITETURA E ARTE DECORATIVA DO AZULEJO NO

BRASIL.   Revista   Belas  Artes,   São   Paulo,   2023.   Disponível   em:



LURCA AZULEJOS LTDA. História dos azulejos. Lurca, 23 ago. 2023. Disponível em: <https://www.lurca.com.br/blog/historia‑dos‑azulejos?srsltid=AfmBOorrNnM2IUZNj_IUGCqpM3JQwAE3Lk4CcWZojbEBLn_SGBbOeqNB>. Acesso em: 18 mai. 2025.


WANDERLEY, I. M. Azulejo na arquitetura brasileira: os painéis de athos bulcão. 2006. Dissertação (mestrado em arquitetura e urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18141/tde- 10112006-142246/publico/ingrid_exemplar_final.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2025.



REFERÊNCIAS IMAGENS


PINHEIRO. Azulejos do Convento de São Francisco da Bahia [imagem]. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18141/tde- 10112006-142246/publico/ingrid_exemplar_final.pdf>. Acesso em: 18 mai. 2025.


ZANINI, Mário. O Circo [imagem]. Disponível em: < https://www.leilaodearte.com/leilao/2024/setembro/238/osirarte-mario-zanini-o-circo-33491/>. Acesso em: 18 mai. 2025.





Matheus Henrique Fleuri Silva
Matheus Henrique Fleuri Silva

Matheus H. Fleuri Silva é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER) da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UEG (2024). Na qual suas pesquisas se debruçam sobre as diversas relações que a arquitetura e o urbanismo pode criar com o Cerrado, as artes e os saberes multidisciplinar.

 
 
 

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